Na pista de Tintin e companhia
Bruxelas viu nascer Tintin e os Schtroumpfs, heróis de banda desenhada agora ressuscitados por Hollywood. Os filmes são mais um chamariz para a cidade belga, promovida a capital mundial da Nona Arte. (...)
Chamam-lhes bandes dessinées (abreviatura de BD) por oposição aos cartoons norte-americanos. Nasceram na Bélgica impulsionadas pelas revistas de Spirou (1983) e de Tintin (1948), publicações juvenis que se tornaram grandes sucessos editoriais pós-guerra, pelo menos à escala europeia.
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Esta escola que veio a ser chamada franco-belga e indentificada por uma certa precisão de traço adotou Bruxelas como principal centro criativo, mas também frequente fonte de inspiração. Ou seja, é uma relação que tem funcionado nos dois sentidos: a capital belga como musa da banda desenhada, a banda desenhada como mola da vida cultural da primeira. Daí os museus, os murais, as estátuas e demais intervenções urbanas que se vêm multiplicando um pouco por toda a parte na cidade. Bruxelas era já uma Meca para aficionados de BD e jovens alternativos, mas agora Tintin e os Sctroumpfs (Estrumpfes em português, Smurfs na versão inglesa) assomaram a Hollywood.
Há uma empena pintada na Rue de L'Étuve com Tintin, Milú e Capitão Haddock a descerem por uma escada de serviço, que reproduz um quadradinho do albúm O Caso Tournesol. Será o primeiro ou mesmo o único fresco de banda desenhada que a maior parte dos turistas hoje vislumbram, uma vez que fica mesmo em frente do principal ícone da cidade, a célebre estatueta do Manneken Pis. Mas se as aventuras de Tintin com a assinatura de Steven Spilberg/Peter Jackson se tornar no previsível sucesso planetário, quem sabe se esse equilíbrio de forças não se irá inverter?
"O Manneken Pis?", perguntarão os turístas. "Sim, é aquela estatueta engraçada do puto a mijar, que fica em frente ao espetacular mural de O Caso Tournesol."
Humor renovador
Percursos BD é um roteiro que integra meia centena de murais e intervenções similares no espaço público de Bruxelas e arredores. Está organizado como um itinerário turístico de descoberta da cidade e continua a crescer a uma média de dois novos frescos por ano, ao mesmo tempo que há trabalhos de conservação nos mais antigos.
(...) Assumido pela edilidade e idealizado em colaboração com o Centro Belga da Banda Desenhada, o programa arrancou há precisamente vinte anos com o propósito de homenagear personagens/autores nascidos na capital belga e ao mesmo tempo embelezar/ dissimular vazios urbanos em pleno centro da cidade.(...)
Descobrir Bruxelas através dos murais BD também significa passear por bairros completamente marginais às excursões usuais, urbanizações brutalistas onde há andares completamente incendiados, vidros partidos e mantas no lugar de cortinas de janelas. (...) Compreende-se então a operação dos murais BD como um ensaio de renovação urbana, por isso também centrado nas empenas, não tanto nas fachadas dos edifícios. (...)
Na internet:
http://visitbrussels.be/
Centre Belge de la Bande Dessiné
Rue des Sables 20
www.comicscenter.net