Fotografias de autoria de Julio Cordero são expostas "pela primeira vez em Portugal" a partir de sábado, no âmbito da Lisboa - Capital Ibero-americana de Cultura 2017, anunciou a Câmara de Lisboa.
A exposição, a inaugurar no Arquivo Municipal de Lisboa - Fotografia, na rua da Palma, intitula-se 'Archivo Cordero' e tem curadoria de Miguel López Pelegrín.
Trata-se de uma mostra de 70 imagens pertencentes ao espólio de Julio Cordero (1879-1961), que fotografou de "forma exímia La Paz na primeira metade do século XX", cidade que será a Capital Ibero-Americana de Cultura em 2018.
Esta exposição é "uma pequena aproximação ao mundo imenso e complexo de imagens que existem ainda guardadas no Archivo Cordero em La Paz e que, neste momento, se encontram numa fase de estudo", pode ler-se na nota de imprensa do Arquivo Municipal de Lisboa-Fotografia (AML-F).
"Através de fotografias de casais de namorados, famílias, casamentos, famílias completas, registos militares, entre outros, é possível hoje fazer um percurso pelo passado deste país", refere o comunicado da instituição.
Para Miguel Lopez-Pélegrin "terá chegado, possivelmente, o momento de reformular a verdadeira história da fotografia latino-americana a partir do entendimento da diversidade como elemento principal e da integração das áreas periféricas como elemento essencial".
"Como é possível que existam tantas histórias da fotografia latino-americana e em todas se ignorem os fotógrafos bolivianos? Esta lacuna não foi produzida pela ausência, mas pelo desconhecimento da obra dos fotógrafos que têm trabalhado nas principais cidades da Bolívia", sentencia o curador que chama a tenção para o facto de que "a história da fotografia latino-americana que [se hoje se conhece] baseia-se em poucos elementos e não explora a diversidade de projetos das complexas sociedades do último século e meio".
A coleção é atualmente propriedade de Rafael Doctor, que pediu à escritora e ativista anarcofeminista boliviana Maria Galindo para fazer as legendas de cada uma das fotografias, tendo feito "uma releitura poética de cada uma delas, carregada de grande ironia e crítica social", refere o AML-F.
Julio Cordero nasceu em Pucarani, uma província no centro do Altiplano boliviano, em agosto de 1879, e ainda criança partiu para a capital, La Paz, e quando jovem, começou a trabalhar como ajudante no estúdio fotográfico dos irmãos Valdés, de nacionalidade peruana, onde aprendeu as técnicas da fotografia da época de forma autodidata.
No virar do século, em 1900, Cordero abriu o seu próprio estúdio fotográfico, no centro da cidade, em que oferecia todo o tipo de fotografias, "retratos, famílias, grupos campestres, colégios, locais ferroviários, interiores de fábricas e igrejas", como mencionavam os panfletos publicitários coevos.
A popularidade do seu estúdio levou-o a ser eleito "Alcalde de Barrio", numa das zonas "mais povoadas e mestiças da cidade" e, através do seu vínculo com o Partido Liberal, tornou-se também fotógrafo de vários governos e da polícia boliviana, tendo aliás sido reformado com a patente de capitão desta força.
O "Archivo Cordero" atinge um volume de milhares de peças e abarca "todo o tipo de personagens da fotografia" e "uma surpreendente quantidade de fotos feitas sem pedido, motivadas pelo desejo de retratar uma sociedade complexa".
"Há fotos de mendigos, do tipo postal com personagens indígenas, paisagens e todo o tipo de eventos públicos, e não ficou esquecido nenhum aspeto da vida social, quotidiana, política e económica, que passaram pelo olhar do fotógrafo", remata o arquivo lisboeta.