Vai fazer dois anos que Miguel (chamemos-lhe assim) deixou de praticar qualquer atividade física. Quando foi declarada a pandemia integrava os escalões de formação de um clube da região de Coimbra, que só em setembro passado retomou os treinos e jogos. Nessa altura, o adolescente não quis regressar.
Os pais insistiram, mas tornou-se cada vez mais difícil entrar no mundo de Miguel, confinado às quatro paredes do quarto a maior parte do tempo: é lá que faz as refeições, que tem televisão, computador, e a partir de onde joga online com os "amigos", com quem comunica através das redes sociais e de uma aplicação. Durante a pandemia, transitou do 7.º para o 8.º ano, mas "foi-se desligando cada vez mais dos colegas, deixou de se encontrar com eles na rua, porque os colegas eram também os companheiros da bola", conta a mãe ao DN, numa altura em que a família já recorreu ao apoio psicológico, porque percebeu, no regresso à escola, "que algo não estava bem: no final do primeiro primeiro as notas não foram boas, ele praticamente deixou de falar connosco e com o irmão (cinco anos mais novo) e um dia descobrimos que até de noite jogava. Quando o ia chamar de manhã para ir para a escola estava cheio de sono porque passava a noite a jogar. Estava completamente viciado".
O caso de Miguel é um dos que estarão a ser encaminhados para os serviços de pedopsiquiatria do Centro Hospitalar da Universidade de Coimbra (CHUC). E é apenas um entre milhares, sinais dos tempos, reflexo das alterações que estão a ocorrer entre os adolescentes e na própria sociedade, agudizadas com a pandemia.
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