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quarta-feira, 1 de fevereiro de 2017

22 imagens perdidas de um fotógrafo da morte em Itália

Tomellini foi dos primeiros fotógrafos forenses na Europa. As imagens estiveram perdidas por 2 séculos e viram agora a luz do dia. A morte nunca foi tão bonita, dizem os novos proprietários das fotos.

Mino Tristovskij era o mais recente membro do “Camera Club”, uma das equipas de fotografia mais influentes do Reino Unido e que reúne alguns dos maiores promessas desde 1885. Tinha regressado recentemente de Roma, capital italiana, onde por uma série de coincidências encontrou um arquivo de um fotógrafo profissional dos anos 70 que tinha morrido há pouco tempo. Havia algo de pesado nas suas imagens: o homem gostava de fotografar o limiar da morte, captava os últimos momentos de pacientes com cancro nas vias respiratórias de uma maneira “profundamente tocante”. Aquelas imagens a preto e branco encheram-no de curiosidade e partilhou a história com David Champion, um mestre das fotografias monocromáticas com quem andava a aprender. Foi ele quem o apresentou a Stefano Amoretti, um jovem prodígio italiano do Camera Club. Estava para nascer o projeto “Clue: Cold”.
De repente, a Sala Escura 2 do Camera Club estava transformado num laboratório fotográfico com ares de café, onde Amoretti e Tristovskij gostavam de discutir os arquivos de fotografia forense do início do século XIX. Todas as quintas-feiras eram dia de revelar imagens, estudá-las ao pormenor, encontrar pistas para o que elas representavam. “Nós gostávamos dos mesmos bares, onde passávamos horas a discutir o espírito pioneiro intelectual e técnico dos inícios do século XIX”, explicou ao Observador Stefano Amoretti.
Numa dessas investigações à lupa, Amoretti e Tristovskij encontraram algo de peculiar numas fotografias que Stefano tinha levado para o clube. Eram umas imagens que lhe tinham sido entregues por Riccardo Sezzi, um colecionador natural de Génova que durante os anos 80 se tinha cruzado, de modo pouco claro e nunca verdadeiramente explicado por ele, com uma mala abandonada cheia de negativos. Numa dessas fotografias, entretanto reveladas nas salas do Camera Club londrino, Amoretti e Tristovskij encontraram uma data: 1912. Na imagem via-se um cadáver caído numa linha de ferro. Por perto estava o Teatro Paganini, que à entrada anunciava a chega de uma peça: “Le Roi, com Oreste Calabresi, 27 de janeiro de 1912, 21 horas”. Nesse mesmo ano tinha sido aberto em Lyon o primeiro laboratório de investigação criminal. “Percebemos imediatamente que o que tínhamos nas nossas mãos não eram apenas negativos fotográficos. Eram autênticos documentos históricos: era a génese do sistema legal contemporâneo”, contou Amoretti.
A partir daí, ambos os fotógrafos entenderam que não estavam perante um mero artista atraído pelo crime ou pela morte. Imagens como estas costumam estar guardadas nos arquivos das polícias nacionais e são poucas as instituições artísticas com acesso a elas. Uma das exceções era o MoMA, que preparou uma exposição com cinco negativos que tinha comprado a um fotojornalista e que estavam datados de 1943. Estas eram diferentes: eram como “um jogo de Cluedo”, adjetivou Amoretti.
Com a ajuda de um criminologista, Amoretti, Tristovskij e Riccardo Sezzi (anterior proprietário das fotos) foram até Génova em busca de mais respostas. Descobriram que as fotografias pertenciam a Luigi Tomellini, um fotógrafo forense cujo trabalho era essencial para as investigações policiais numa cidade que estava em crescimento, mas cujo centro histórico continuava marcado por crimes de honra, vinganças e invejas. Embora lidasse de perto com a morte, o sangue e os cenários do crime, Luigi Tomellini parecia ter uma sensibilidade diferente: havia “algo de tão bonito como macabro” nas imagens dele, tanto a captar fotos dos cadáveres, como no contexto em que estes eram encontrados e nos seus bens. O trabalho de Luigi Tomellini era tão apreciado que começou a auxiliar nas investigações não só em Itália, mas também em França e Inglaterra.
Na fotogaleria pode ver algumas das imagens menos gráficas de Luigi Tomellini, disponibilizadas por Stefano Amoretti ao Observador.
Consultado a 1 de Fevereiro de 2016

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